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Palavras do nosso Capelão

QUE RIO MIRA O MIRA-RIO?!

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Na sua primeira e histórica sede, o nome do Colégio fazia todo o sentido. Ali, no Restelo, rodeado de embaixadas e de vivendas apalaçadas, as duas casas, em que o Mira-Rio estava modestamente instalado, ‘miravam’ o Tejo – o seu único luxo! – que corria, bonançoso, aos pés da torre de Belém, sob o olhar atento do Cristo-Rei. 

Sempre que chegava ao gabinete do capelão, a minha primeira missão era abrir totalmente a persiana, não apenas para que a luz do sol invadisse o pequeno espaço, que também servia de sacristia e de confessionário, mas para que aquela mancha azul me inundasse com a sua paz. E parecia-me que, lá longe, o Cristo-Rei abençoava o pequenino Colégio, mas já então tão grande no seu desígnio e ambição.

Mas não era esse o rio que o Colégio ‘mirava’. Outro é o leito pelo qual deslizam, até ao mar salgado, as vidas de tantas alunas que, graças a Deus, mas também ao trabalho e dedicação de muitas pessoas – pais, professoras, educadoras e funcionárias – que, naquele espaço, pela afirmação dos valores e princípios cristãos, aprenderam a viver a “liberdade gloriosa dos filhos de Deus” (Rm 8, 21).

Sim, cada vida é um rio que nasce de um acto de amor, como uma nascente que brota no meio da serra. Depois, mais não é do que um fiozinho de água, que escorre preguiçosamente pelas encostas dos montes, à procura dos vales profundos. A adolescência são cascatas, rápidos de águas em turbilhão, de um leito cuja voz já se ouve e sente. Depois, o tumulto das águas espraia-se num remanso tranquilo – a maturidade –que, por sua vez, desce até ao mar. 

Nas margens do rio que somos, ficaram os pais e avós, ficaram as lembranças do Colégio, as amizades sempre novas e velhas, como um tesouro de saudade que nos lembra o trajecto percorrido. Mas, como dizia o poeta, o caminho faz-se ao andar.

Antes de chegar ao mar, que é o Deus de amor em que as nossas vidas devem desaguar, é tempo de recordar. A lembrança não é uma atitude ensimesmada, de quem já desistiu de viver e de lutar, mas um acto de memória que define a nossa identidade, no renovado compromisso de ser agora o esteio por onde outras vidas possam também passar, em direcção ao mar. 

Há uma missão, sempre nova, para as antigas, mas não velhas, alunas do Colégio: servir! Como dizia o apóstolo aos cristãos de Corinto, “cada um dê como propôs no seu coração, não com tristeza, nem constrangido, porque Deus ama quem dá com alegria” (2Cor 9, 7).

 

P. Gonçalo Portocarrero de Almada  Pe Goncalo